7 de janeiro de 2012

OS CONFLITOS ENTRE A MAÇONARIA E A IGREJA CATÓLICA NO BRASIL




No primeiro quartel do século XIX, a Maçonaria trabalhava no sentido de operar importantes transformações na sociedade brasileira. Dentre os projetos mais importantes, destacam-se: separação entre a igreja e o estado; instituição do casamento civil, instauração da liberdade religiosa; e a introdução do sistema republicano de governo.
O papa Leão XII disse em sua encíclica de treze de março de 1825: “as obras sobre religião e sobre a república que seus membros ousam à luz da publicidade...”(2). A semente da república estava sendo lançada: os líderes religiosos da época começaram a se preocupar com a possibilidade de perder o poder temporal. Apesar da diferença entre o pensamento maçônico e o da Igreja, o relacionamento entre a Igreja e maçonaria acontecia sem maiores tropeços.
Enquanto isso, os padres defendiam abertamente idéias liberais, identificando-se com os maçons da época. Em conseqüência, muitos deles foram iniciados na maçonaria, alguns com o consentimento e outros apenas com a tolerância dos bispos. Em novembro de 1872 “a paz termina quando, numa homenagem prestada pelas Lojas Maçônicas do Rio de Janeiro ao Grão-Mestre, o Visconde do Rio Branco, registra-se um incidente de maior monta. O padre Almeida Martins, que também é maçom, apresenta-se na cerimônia em seu traje de sacerdote e faz um discurso de saudação, representando a Loja do Grande Oriente do Lavradio, recebendo, por isso, uma punição do bispo diocesano, D. Pedro Maria de Lacerda. Reincidente em sua atuação é então suspenso das ordens sacras. Começa aqui uma guerra surda em que maçons passam a hostilizar a Igreja, enquanto esta, por seus bispos, age duramente contra os religiosos renitentes na pratica da maçonaria. Ocorre, então, um incidente ainda mais grave. O bispo de Olinda, D. Vital Maria Gonçalves de Oliveira, jovem de vinte e poucos anos, resolve aplicar, na época sob a sua jurisdição, as recomendações da Encíclica de 1864 do papa Pio IX, proibindo o clero de participar das cerimônias patrocinadas pelos maçons. O bispo chama particularmente cada um dos sacerdotes envolvidos e ordena-lhes que se dediquem tão somente à vida religiosa, afastando-se de atividades estranhas aos conventos. Encontrando oposição, D. Vital acabou por suspender as irmandades recalcitrantes, impedindo-as de receber novos membros, de participar de ofícios religiosos e até de vestir seus hábitos. Algumas destas irmandades recorrem ao governo e D. Vital, por sua parte, recorre ao papa, que lhe dá poderes para agir com rigor contra os rebelados. Está formado o embrulho, provocado pela espúria união entre a Igreja e o Estado(...)”(1) O incidente teve conseqüências nas outras unidades da federação; o bispo de Belém do Pará, D. Antonio Macedo Costa, reagiu e passou a atacar a Maçonaria. Diante dos recursos apresentados pelas irmandades, o Governo exigiu que D. Vital voltasse atrás e pusesse fim e à suspensão sob pena de ser processado. “O bispo responde com toda a calma e, depois de apresentar suas homenagens ao Imperador e seu respeito pelo Governo, acrescenta que se deve obedecer antes a Deus que aos homens e que recebia, naquele mesmo dia, do Governo, o aviso para suspender o interdito às irmandades, e, do Papa, seu Breve aprovando seus atos.”(5) Não tendo sido atendido, o governo avisa as irmandades que haviam feito os recursos que as mesmas estavam liberadas para suas atividades religiosas e civis. Como punição a Igreja, “o governo suspendeu o pagamento dos salários dos padres, que, naquele tempo, eram sustentados com recursos públicos. Finalmente foi ordenado que D. Vital fosse processado por desobediência e desacato. Foi então expedida a ordem para prender o bispo e mandá-lo para o Rio de Janeiro, onde seria julgado pelo Supremo Tribunal.”(5).

O bispo foi preso no Palácio Episcopal, em Recife, por um Juiz, o chefe de polícia e um Coronel. D. Vital apresentou-se às autoridades totalmente paramentado, com mitra e báculo, e assim foi preso. D. Vital foi julgado e condenado a quatro anos de prisão com trabalhos forçados.
Nos anos que se seguiram, as hostilidades continuaram no campo das idéias. O papa Leão XIII em sua encíclica de 20 de abril de 1884, disse: ”os maçons defendem a idéia de que os chefes de governo têm poder sobre o vinculo conjugal. Na educação dos filhos não há nada a lhes prescrever em matéria de religião. Já em muitos países, mesmo os católicos, esta estabelecido que fora do casamento civil não há união legítima.”(3) Nessa encíclica, o papa protesta contra a Maçonaria, por estar defendendo a liberdade de religião e a instituição do casamento civil. Isso poderia ser traduzido em perda de influência da Igreja sobre os fiéis. Leão XIII, cinco anos antes da proclamação da Republica no Brasil, disse também nesta encíclica que “segundo os maçons, todo o poder esta no povo livre; os que exercem o poder só são detentores pelo mandato ou pela concessão do povo.”(4) Na mesma encíclica o papa afirma que o poder pertence a Deus, o qual transferiu à Igreja a responsabilidade de governar ou de indicar alguém que fosse capaz de fazê-lo.(...)
O conflito no campo das idéias prosseguiu até o início do século XX. Os esforços para a evolução social e política eram divididos entre os católicos conservadores, os liberais e cienticifistas. A Igreja católica defendia o pensamento conservador e a Maçonaria o liberal. A igreja tinha nas mãos as escolas que educava somente os ricos; a Maçonaria agiu no sentido de mudar esta situação. Criou escolas noturnas e diminuiu o custo do ensino, tornando-o mais acessível as classes menos abastadas. Isto frustrou o objetivo da Igreja, que era manter o status quo da época, ou seja, impedir que o poder mudasse de mãos. Após o primeiro quartel do século XX não se teve mais noticias de conflitos entre a Igreja e a Maçonaria.
Aliás, é interessante mencionar que entre os membros da Maçonaria brasileira estão inúmeros evangélicos e católicos praticantes.
Ir:. Elias Mansur Neto
Venerável da Loja Maçônica Cavaleiros Templários, em Belo Horizonte, MG. E-mail (eliasmn@terra.com.br) ( eliasmn@cavtemplarios.com.br )
LITERATURA CONSULTADA.
(1) Fonte Web Site oficial do Grande Oriente do Brasil- GOB(www.gob.org.br).
(2) CAAMINO, Rizzardo da Introdução à Maçonqaria – Histria Universal. 3ª edição. Vol 1. Rio de Janeiro. Editora Aurora, 1972[p.114].
(3) Op. Citada.[pp. 138 e139]
(4) Op. Citada [p.139]
(5) Artigo de Julio Fleichman – publicado no Web Site do seguinte endreço: http://www.permanencia.org.br/revista/historia/vital.htm