28 de dezembro de 2011

“Maçonaria do século XXI: Pensar, sentir e viver”.

MUDANÇA DE MODELO MENTAL [1] S.'.S.'.S.'. Iniciaremos a exposição desta parte perguntando: por que razão a cultura Vigente – ocidental ou oriental – apresenta, em todas as partes, sintomas inconfundíveis que prenunciam sua inevitável decadência? A resposta parece clara, simples e unívoca: porque falha pela base. E a que se deve o fato de ela falhar pela base? Às seguintes causas, poder-se-á dizer:
a) Não foi nem é capaz de ensinar ao homem a conhecer a si mesmo.
b) Não lhe ensinou a conhecer o mundo mental que o rodeia, interpenetra e influi poderosamente em sua vida.
c) Não lhe ensinou a compreender, amar e respeitar o Autor da Criação, nem a descobrir sua Vontade através de suas Leis e das múltiplas manifestações de seu Espírito Universal. O fato de não se ter ensinado ao homem a conhecer sua vida interna, plena de recursos e energias para quem sabe aproveitar tão imponderável riqueza, tem sido a causa que o faz ceder, sem maior resistência, à tentação de fundir-se na multidão anônima, consumando-se assim a perda de sua individualidade. Desde os alvores da atual civilização, foram se somando, dia após dia, os que nenhum esforço fazem para superar sua inércia mental e volitiva. Das faculdades de sua inteligência, só funcionam com preponderância a imaginação e a memória. As demais trabalharam e trabalham só por necessidade ou por alguma premência, observando-se sempre uma acentuada insuficiência, devido à sua habitual inércia. Estamos nos referindo à maioria dos seres, ao homem que não organizou seu sistema mental de modo que todas as faculdades de seu mecanismo inteligente funcionem, alternada e ativamente, no ofício construtivo que devem desempenhar. Para pensar a Maçonaria do século XXI é preciso partir da base do modelo mental (ou modo de pensar, ou sistema de pensamento) por meio do qual construímos o nosso mundo. Há poucas esperanças de mudar o mundo que elaboramos, ao longo de nossa interação com ele, se não modificarmos antes o modo de pensar que utilizamos para essa construção. Assim, propomos que, do ponto de vista do Acolhimento Maçônico, o pensar (que inclui o sentir), e o viver sigam a seguinte dinâmica:
Mudar o modo de Sentir ¥
Mudar o modo de Pensar ••
Mudar o modo de Falar ••
Mudar o modo de Agir •
O diagrama exprime algumas das principais dimensões do ser humano: o sentir, o pensar, o falar e o agir. Todas estão entrelaçadas, de modo que modificações em qualquer uma repercutirão sobre as demais.
Trata-se de uma abordagem integrada e integradora, na qual tudo acolhe tudo e por tudo é acolhido. Isso significa que é preciso, antes de qualquer coisa, compreender que o privilégio dado por nossa cultura à tecno ciência, em prejuízo das humanidades, é um dos principais obstáculos à colocação em prática das iniciativas ou objetivos da Maçonaria. Portanto, desde o início convém ter em mente que aquilo que se deseja, é introduzir ações de acolhimento numa cultura que é ou está basicamente não-acolhedora, uma cultura na qual a competição predatória, a devastação da natureza e a exclusão social não recebem o grau de atenção e questionamento que deveriam. Estas palavras, porém, não devem ser tomadas como desestímulo ou pessimismo, mas sim como um convite à reflexão. Para pôr em prática os objetivos sociais da Maçonaria é preciso mudar de modelo mental. Trata-se de uma mudança ampla e profunda, que não pode ser feita por meio de iniciativas superficiais e de curto prazo. Eis o nosso desafio. Sem compreende-lo e buscar meios de supera-lo, nossas boas intenções cairão no vazio.– Ciência, arte e cultura ao mesmo tempo, a Maçonaria transcende a esfera comum, configurando uma doutrina de ordem transcendente. Como doutrina, está destinada a nutrir o espírito das gerações presentes e futuras com uma nova força energética, essencialmente mental, necessária e imprescindível para o desenvolvimento das aptidões humanas. São atributos desta fecunda doutrina: a elevação de miras, a amplitude na concepção das possibilidades do homem, sua autêntica veracidade e a vigência permanente de suas razões medulares. A cultura Maçônica é inconfundivelmente singular: não contém um só elemento estranho à originalidade de sua fonte, por ser original a concepção que a sustenta.– Lidar com esses obstáculos exige, antes de tudo, que pratiquemos o que propomos. O pensar inclui o sentir. Em geral, sentimos antes de pensar. Ou, de modo inverso, o que pensamos produz sentimentos. Pode-se dizer então que o sentir e o pensar se influenciam mutuamente, isto é, estão em relação circular. Para trabalhar a interação entre o sentir, o pensar, o falar e o agir propomos começar examinando o que sentimos diante do sofrimento e da doença ou de outro infortúnio. Nossa proposta é iniciar pelo sentir e depois entrar em contato com o que pensamos, segundo vários pontos de vista, ou sejam, o dos que podem e devem resolver o problema, o do “paciente” ou queixoso, o de seus familiares e o da comunidade. Examinemos alguns dos nossos sentimentos diante de tais situações e da necessidade de buscar atendimento, ou mesmo da necessidade de, fora dessas situações, procurar ações preventivas. Em geral, os profissionais, como é a praxe em nossa cultura, foram preparados para sentir, pensar, falar e agir com base na lógica binária: o modelo mental de causa e efeito, a lógica do "ou/ou". O pensamento binário é uma forma de pensamento dicotômico que separa o inseparável. A conveniência de uma visão dicotômica da realidade se consolidou como uma “regra” histórica para modelar a interpretação da realidade e a transformação do mundo. Há cerca de 500 anos, Maquiavel separou o “político” do “moral”; Galileu separou a “realidade material quantificável” da “experiência sensorial intangível”; Descartes separou a “mente” da “matéria”; Bacon separou a “ciência” da “sociedade”; Hobbes separou o “poder” do “povo” e Smith separou o “econômico” do “político”. Este falso dualismo influenciou a forma de pensar e, portanto, a forma de agir de todas as gerações posteriores a estes pensadores. A humanidade, hoje, está confusa frente à proliferação das falsas dicotomias criadas por esta forma de pensar que, por conveniência política ou por inocência intelectual, exige dos “construtores sociais” um posicionamento frente a estes falsos dilemas. Isso tanto drena energia social como gera oposições desnecessárias dentro e entre grupos sociais, enquanto os promotores desse tipo de pensamento se beneficiam da confusão criada. Trata-se, portanto, de um padrão que exclui em vez de acolher, que separa em vez de juntar, que fala de ações, não de interações, de vivencia e sobrevivência em vez de convivência. Em especial, é um modelo que privilegia as partes isoladas, em prejuízo das relações. A esse respeito Václav Havel, ex-presidente da República Checa, tem uma frase que não deve ser esquecida: "Educação é a capacidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos". Por sua vez, Elizabeth Rondon Amarante, neta do Marechal Rondon, em contato com os índios myky, descobriu que na língua deles não existe o verbo "viver"; em seu lugar está o verbo "conviver", que significa morar com, viver com, viver com o mundo, com os outros e consigo mesmo. Relação, eis a palavra-chave, a argamassa do Maçom. Se sabemos tudo sobre uma espécie vegetal ou animal, uma técnica, um tratamento, etc., podemos dizer que somos especialistas, eruditos. Mas só quando compreendemos e vivemos as relações entre as pessoas, as coisas e os fenômenos é que somos realmente educados. Nesse sentido, Maçonaria é educar. E a formação maçônica é, pois, um processo pedagógico. No contexto das ações de formação de profissionais, a maior preocupação de nossas escolas e faculdades, predominantemente voltadas para a tecno-ciência, é instruir, adestrar e treinar. Mas, poucas educam. Poucas ensinam aos que nelas estudam a compreender que a percepção das relações, das interações, pode diminuir a incerteza e, portanto, atenuar o medo. Uma sociedade regida por um sistema de pensamento que privilegia a divisão, o afastamento, o não-acolhimento é uma sociedade de desconhecidos, de estranhos. O desconhecimento produz a desconfiança, e esta alimenta o medo e é por ele realimentada. Se temos medo de entrar em contato com nossos sentimentos, emoções e subjetividades, acabamos adotando uma visão de mundo em que tudo nos parece externo, objetivo. É como se não compartilhássemos o mesmo mundo com as pessoas com as quais lidamos no cotidiano. Como então colocar-nos no lugar delas? Esse raciocínio faz lembrar um mito da Grécia clássica: a história do Curador Ferido. Conta a lenda que a arte de curar foi ensinada por Apolo ao centauro Quíron. Este, por sua vez, a transmitiu a Esculápio, o deus da medicina. Com Quíron, Esculápio aprendeu a praticar a cura pelas ervas. Entretanto, Quíron tinha uma ferida que jamais cicatrizava: ele vivia curando os outros, mas estava sempre doente, sempre sofrendo, e por isso era capaz de compreender os sofrimentos daqueles a quem tratava. Esse mito pode ser interpretado como uma sugestão da necessidade que o maçom tem de reconhecer a sua própria vulnerabilidade, isto é, precisa tomar consciência de sua própria ferida, que representa a possibilidade de ele próprio “adoecer” e sofrer. Em outros termos, colocar-se no lugar do outro para poder avaliar o sofrimento dele e, então exercer a solidariedade e a fraternidade. Ora, vivemos numa sociedade de competição, de heróis violentos e homens armados. A todo o momento na televisão, cinema, internet e outras mídias, somos encorajados a ser prepotentes, truculentos, conquistadores. Ocultamos o sentimento de culpa pela parte que nos cabe na injustiça social com a crença que precisamos ser competitivos, machistas e imperiais. Tudo isso nos leva a sentir vergonha de ser compassivo e acolhedor; vergonha de comover-nos; de sentir e prestar solidariedade; de não ser “durão”; de não parecer “lógicos” e racionais. Adotamos uma atitude de frieza e indiferença que, no fim das contas, acaba se voltando contra nós mesmos. Por outro lado, a defensividade nos afasta do mundo e de nós próprios. Sentimo-nos injustiçados, o que nos faz ser injustos para com os outros. Não nos damos conta de que vivemos numa sociedade em que tudo foi reduzido ao fator econômico e que este a cada dia vem sendo reduzido ao financeiro. Não percebemos que nem mesmo as ações básicas de saúde, educação e segurança escaparam a esse mecanismo. Em consequência, quanto menos nos damos conta disso, ou seja, quanto mais nos deixamos alienar, mais aumenta a nossa frustração. Todas essas circunstancias fazem com que sintamos pena de nós mesmos: como pude acabar assim? Foi para isso que estudei tanto? Foi para isso que me preocupei tanto? A auto piedade acaba nos tornando ainda mais isolados, mais defensivos, mais alienados. Se nos vermos como coitados, teremos pena de nós mesmos. Com isso, o Máximo que poderemos ter, em relação aos outros, é também pena. A auto piedade leva a ter dos outros. Pode até facilitar atitudes de “ajuda”, mas não promove o acolhimento, não promove a verdadeira ação maçônica. Ter pena gera assistencialismo, paternalismo. Separa em vez de acolher. É o método objetivo de quem não quer se envolver. A compaixão, ao contrário, conduz ao Acolhimento. Compaixão não significa sentir pena, como muitos pensam. Compaixão, quer dizer colocar-se no lugar do outro para avaliar-lhe e compreender lhe as necessidades e sofrimentos, e assim poder acolhe-lo e conforta-lo. No contexto das ações interpessoais, nossos modos básicos de sentir têm como apoio a divisão, a fragmentação, a pouca compreensão do que significa relacionar-se, ligar-se, acolher, comprometer-se, compartilhar. Nossas ações são em geral vistas como relações de uso. Vemo-nos como fornecedores de produtos e serviços que se destinam a "usuários". O uso pressupõe o descarte e a posterior exclusão, isto é, um segmento da população utiliza outro e depois o descarta. Em suma: nosso sentir atual é desagregador, separador, disjuntivo. Não compreendemos bem a extensão e a profundidade da ideia de relação, junção, participação. Nosso sentir é o de quem não aprendeu a pôr-se no lugar do outro. É um sentir não-acolhedor e, portanto, não-maçônico. A Maçonaria é identificada como um processo que requer a simultaneidade de várias iniciativas, é necessário começar pela modificação do nosso modo de sentir. A primeira providência para tanto é educacional. Ela requer uma reaproximação com a cultura humanística, que vem há longo tempo sendo posta em plano secundário. Os conhecimentos Maçônicos – os verdadeiros iniciados sabem – não devem ser lidos ou escutados sem a necessária atenção. Tampouco devem ser absorvidos de forma ligeira e superficial pelo entendimento, pois estão destinados a formar uma nova individualidade. Hão de ser, forçosamente, assimilados pela consciência. Por outra parte, os conhecimentos Maçônicos conformam um todo indivisível na concepção que lhes deu origem, razão esta que deve levar o Iniciado a uma investigação mais profunda, a fim de abarca-los em sua totalidade, não em fragmentos isolados. O verdadeiro Maçom deve ter em mente os grandes objetivos no desbastar da Pedra Bruta que são:
1) A evolução consciente do homem, mediante a organização de seus sistemas mental, sensível e instintivo.
2) O conhecimento de si mesmo, que implica o domínio pleno dos elementos que constituem o segredo da existência de cada um.
3) A integração do espírito, para que o ser possa aproveitar os valores que lhe pertencem, originados em sua própria herança.
4) O conhecimento das leis universais, indispensável para ajustar a vida a seus sábios princípios.
5) O conhecimento do mundo mental, transcendente ou metafísico, onde têm origem todas as idéias e pensamentos que fecundam a vida humana.
6) A edificação de uma nova vida e de um destino melhor, superando ao máximo as prerrogativas comuns.
7) O desenvolvimento e o domínio profundo das funções de estudar, de aprender, de ensinar, de pensar e de realizar, com o que o método maçônico se transubstancia em aptidões individuais de incalculável significado para o porvir pedagógico na educação da humanidade. Como se pode ver, não se trata de um estudo a mais entre os tantos conhecidos, mas sim do mais valioso de todos os estudos. Por isso, não deve ficar na superfície mental do indivíduo, pois nada de útil daí resultaria. Quem se inicia nos estudos da Arte Real deve fazê-lo com profundidade, incorporando à sua vida, o saber que surge deles. Procedendo assim, assimilando internamente cada tópico aprendido, verificará a eficácia do poder criador e dinâmico destes conhecimentos. Então verá, com os olhos do entendimento, como ficam impressos indelevelmente em sua consciência. Diremos, portanto, que se estuda e se pratica a Maçonaria seguindo o método que ela mesma estabelece. Esse método, essencialmente psicodinâmico, prescreve o estudo e prática no individual, complementado com o intercâmbio e prática no coletivo.

[1]Do autor Luiz Carlos Silva, 33º do R.'.E.'.A.'.A.'.. Extraído do livro “Maçonaria do século XXI: Pensar, sentir e viver”.

2 comentários:

  1. Como faço para adquirir o livro Maçonaria do Século XXI?

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  2. Como faço para entrar em contato com o autor Luiz Carlos Silva?

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